segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Geddel, o operativo cabo eleitoral de Temer



A carreira política do hoje presidente da República, Michel Temer, deve muito ao seu ex-ministro Geddel Vieira Lima, que deixou a Secretaria de Governo na sexta-feira (24) acusado de crimes como advocacia administrativa e tráfico de influência. Quando era deputado e se elegeu pela primeira vez líder da bancada do PMDB na Câmara, em 1995, Geddel foi o principal cabo eleitoral nas campanhas internas de Temer pela liderança quando se elegeu duas vezes para a Presidência da Câmara.

No seu livro de memórias, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso conta que Michel foi buscar o aval de FHC, então presidente da República, para se eleger líder da então maior bancada da base de apoio ao governo tucano. Ao ser questionado sobre outra candidatura, a do então deputado João Almeida, Temer avisou que Geddel vetava o concorrente por ser também baiano e não queria perder espaço político no partido no estado.

Mesmo com o apoio de nomes como Aloysio Nunes Ferreira, hoje senador do PSDB, e Alberto Goldmann, ex vice-governador de São Paulo, os peemedebistas paulistas amigos de FHC, Almeida perdeu a disputa e, hoje, é secretário-geral do PSDB.

Naquele ano, o então deputado Temer, de pouco voto e eleito na rabeira do partido, começava a virar um nome nacional. Geddel também foi articulador fundamental para que Temer se elegesse duas vezes presidente da Câmara.  Em troca, Temer ajudou Geddel a ganhar cargos poderosos, como o de primeiro-secretário da Casa. A aliança da dupla fez de Geddel três vezes líder da bancada.

Suspeitas e investigações

Aos 57 anos, Geddel coleciona suspeitas.  As últimas o deixam na mira da Operação Lava Jato, que o investiga como beneficiário de propina das construtoras Odebrecht e OAS. Quando ocupava o cargo de ministro, tinha foro privilegiado e os seus casos estavam sendo apurados pela Procuradoria-Geral da República.

Agora, sem o foro privilegiado, passam para a alçada do juiz Sérgio Moro ou de outro magistrado de primeira instância casos como o da pressão sobre o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero, para liberar a construção de um prédio em Salvador, onde diz possuir imóvel que começou a ser construído em área tombada pelo patrimônio histórico. O Tribunal de Contas da União também já investigou Geddel por desmandos no Ministério da Integração, cargo que ocupou no segundo governo Lula.

Geddel começou a carreira política cedo em Brasília, como assessor do pai, o ex-deputado Afrísio Vieira Lima, falecido neste ano. Com este “pistolão”, no começo da década de 1980 foi nomeado diretor do antigo Banco do Estado da Bahia (Baneb) pelo então governador Antônio Carlos Magalhães, de quem ele e a família eram aliados. Pouco tempo depois foi demitido pelo próprio ACM depois de ser acusado de repassar informações privilegiadas para investidores aliados.
Geddel respondeu processo na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), mas o caso terminou arquivado pelo Banco Central. Os processos judiciais também não andaram. Depois disso, Geddel só ganhou poder. Junto com a família, rompeu com ACM e se elegeu deputado federal pelo PMDB. Em 1993 foi investigado na CPI que apurou o escândalo dos chamados “anões do orçamento” e acusado, junto com outros parlamentares, de beneficiar empreiteiras ao apresentar emendas superfaturadas ao Orçamento da União.

Chorou no depoimento à comissão e terminou escapando da cassação com a ajuda do então presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães. Contra a pressão do pai, o filho de ACM cobrou em troca a lealdade de Geddel para suas pretensões políticas.

“Agatunado”

Alguns anos depois, o falecido senador produziu e exibiu vídeos sobre Geddel. Um deles, intitulado “Geddel vai às compras”, conta a história da compra de 12 fazendas e casas pelo ex-deputado em apenas um ano. Em outro, “O Agatunado”, o agora ex-ministro é acusado de façanhas com o dinheiro público. Na resposta, Geddel acusa ACM de ter tomado Viagra demais e Lexotan de menos. O antigo senador chegou a chamar Geddel de “ladrão” durante um depoimento prestado a uma das CPI que o investigava.

O bate-boca ferino é um das características do ex-ministro. Quando era líder do PMDB, em 2002, Geddel chamou o ex-presidente Itamar Franco, então governador de Minas Gerais, de “desleal” e “nômade partidário”. O mineiro respondeu chamando o baiano de “percevejo de gabinete”, “vendedor de sigla” e “anãozinho do orçamento”. A língua ferina Geddel continua se exercitando no Twitter, onde tem mais de 24 mil seguidores. Nesta rede social, não dispensa agressões e até xingamentos a mães de desafetos, como fez com o ator José de Abreu.

Lava Jato

Geddel foi citado por vários delatores presos na Lava Jato, em depoimentos ou troca de mensagens, como beneficiário de propina.  Em um recado eletrônico, o empresário Lúcio Funaro, preso por ordem de Sérgio Moro, acusa Geddel de pressionar em favor de uma operação de R$ 330 milhões no fundo de investimento do FGTS, o FI-FGTS, da Caixa Econômica, onde o ex-ministro foi vice-presidente no primeiro mandato da presidente cassada Dilma Rousseff. Funaro chama Geddel de “boca de jacaré” para receber propina e de “carneirinho” para trabalhar.

Geddel também aparece em relatórios da Polícia Federal solicitando “apoio financeiro” e fazendo negócios pouco republicanos com Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS também preso na Lava Jato. Faz o mesmo com dirigentes de outras empreiteiras. O ex-ministro é citado nas mensagens do empreiteiro como um operativo lobista para a liberação de prédios em Salvador, como fez para beneficiar o com o La Vue, o último caso que apareceu.

Verão passado

Geddel já foi carlista (adepto de ACM), mudou para o PMDB e se elegeu cinco vezes deputado. Foi da base de apoio ao governo de FHC e era um dos mais ferrenhos opositores do primeiro governo Lula. Aderiu ao governo no segundo mandato do petista e, com os novos amigos, ganhou o poderoso Ministério da Integração, responsável pelas obras da transposição do Rio São Francisco.  Nessa função, como neopetista temporário, agrediu o bispo de Barra, Dom Luís Flávio Cappio, contrário à obra.

O cargo o aproximou do PT da Bahia e, como compensação pela derrota eleitoral quando concorreu ao Senado, terminou vice-presidente da Caixa no governo Dilma. Rompeu com a gestão petista e saiu do posto para articular o impeachment e chegar ao Planalto em um dos cargos mais importantes da República, o de articulador político. Caiu acusado de articulação dos próprios interesses.

Mesmo tendo perdido as últimas eleições que disputou, em 2010 Geddel conseguiu eleger o irmão mais novo, Lúcio Vieira Lima, deputado federal com 200 mil votos. Ajudou a reeleger ACM Neto prefeito de Salvador e sonhava com a candidatura ao Governo da Bahia ou ao Senado em 2018. Com a demissão e as acusações a que vai responder na Justiça, perdeu força.

Há algumas semanas, quando foi questionado sobre a citação de seu nome por delatores da Lava Jato, e em conversas grampeadas e pouco republicadas de empreiteiros, Geddel respondeu: “Eu sei o que fiz no verão passado”. Sem o emprego e o poder que tinha, o ex-ministro terá tempo para encontrar o que fazer no próximo verão, além de responder a inquéritos e processos.Por Leonel Rocha do site Congresso em Foco

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